Conexão

Desconectados muito abaixo da média do país

Quase dez mil pelotenses não têm acesso à internet e ainda assim a porcentagem de pessoas conectadas em Pelotas supera a média nacional

Paulo Rossi -

Conversar por WhatsApp, checar o Facebook, fazer pesquisas no Google. Se para muitos esses são hábitos diários, essa não é uma realidade para os quase dez mil pelotenses sem acesso à internet. Ainda assim, a conectividade da população de Pelotas é alta se comparada ao restante do país. Aqui, segundo o Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), apenas 3,3% da população não tem internet em casa. Já a média nacional, de acordo com o IBGE, é de 30,7%. Embora não seja plenamente garantido, o acesso universal à internet está elencado na Constituição Federal como um dos direitos fundamentais do cidadão.

De acordo o IBGE, 69,3% dos lares brasileiros têm acesso à internet. Embora os brasileiros conectados sejam maioria, ainda existem 21 milhões de domicílios sem acesso à rede. Dos lares desconectados ouvidos pelo IBGE em todo o país, os motivos relatados foram o desinteresse (em 34,8% dos casos), o preço do serviço (29,6%), não saber usar (20,7%) e outros motivos (14,9%).

A falta de interesse foi o motivo mais citado para a falta de acesso. Esse é o caso da cozinheira Sona Borges, 58 anos, moradora do Porto. Assim como grande parte das pessoas de sua faixa etária, a internet não está entre os seus hábitos. "Não dou bola pra isso e também não vejo necessidade", conta. Para se informar, assim como 89% dos brasileiros, ela usa a televisão, detalha Sona. O lazer, longe das redes sociais e de serviços como a Netflix e o YouTube, também fica por conta da televisão, com seus programas de entretenimento. Já o telefone celular é o principal canal de comunicação de Sona, utilizado principalmente para falar com a filha, que mora longe.

Rita de Matos Moura, 43 anos, moradora do Navegantes, também faz ligações via celular, sem conexão móvel, para falar com os filhos que vivem em outra região. Mas o motivo de sua vida desconectada é outro. Desempregada, a condição econômica é a principal causa da falta de acesso à internet em sua casa. Ela está entre os nove milhões de brasileiros que alegaram não usar a rede por causa do preço do serviço. "Não adianta colocar se no fim do mês sei que não vou conseguir pagar", desabafa. Rita faz parte dos 47,6% da população não ocupada sem acesso à rede. Já entre a população ocupada, esse número cai para 25%.

A classe social é um dos principais fatores que definem o acesso ou não à internet, já que 98% da classe A brasileira está conectada, enquanto que nas classes D e E são apenas 23%. Tuane Dias, 19 anos, faz parte dessa porção da população. Afastada do mercado de trabalho e dos estudos, a jovem reside na Estrada do Engenho com a mãe e os cinco irmãos. Ao contrário da maioria das pessoas de sua idade, ela diz não ver necessidade em ter internet para conseguir informações. "Eu assisto TV, mas quando acontece algo importante aqui perto meu irmão vem e me conta", relata.

A internet como direito básico
Desde o ano passado, a internet é um dos direitos fundamentais do cidadão brasileiro. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada em novembro de 2017 incluiu a acessibilidade universal à internet na Constituição Federal. A garantia está no artigo 5º, trecho que trata da "inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".

Para Raquel Recuero, professora da UFPel e doutora em Comunicação e Informação, é essencial que esse direito seja garantido. "Às vezes a realidade social das pessoas não motiva o interesse, mas a população sem acesso à internet é privada até de serviços simples e essenciais, como fazer uma carteira de identidade", diz. A pesquisadora também destaca a importância da internet em ano de eleições: "Mesmo com todos os seus problemas, a internet acaba sendo uma grande fonte de novas informações que auxiliam no exercício da cidadania", avalia.

Em busca do acesso pleno
Embora o acesso à internet em Pelotas ainda não seja total, os números são muito superiores à média do restante do país. Ainda assim, a prefeitura de Pelotas tem investido em ações buscando o acesso pleno. Uma delas é o cadastro no Internet Para Todos, programa do governo federal ainda não iniciado. A ideia do projeto é fechar parcerias com municípios interessados para distribuir o sinal com um custo menor. Outra ação é o Cidade Digital, programa municipal para democratização da internet. Entre as ações do projeto está a instalação de antenas em áreas mais isoladas, como a região rural do município.

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